Como e porque começou a trabalhar no ofício de shaper?
Comecei a surfar em Santos no ano de 74, não tínhamos dinheiro eu e meus amigos, então comecei fazer shapes pra mim e meus amigos no ano de 75, na garagem da minha casa, vivia com meu pai no bairro do macuco.
Quanto tempo leva shapeando e mais ou menos quantas pranchas já fez?
Difícil saber exato o número de pranchas, quase todo ano faço uma media de 300 a 400 pranchas, sou ruim de matemática mas.... 300 pranchas vezes 35 anos de trabalho da um montão de pranchas.
Antes de vir pra Europa você shapeava no Brasil? Aonde trabalhava e porque resolveu sai da terrinha?
Antes de começar trabalhei na marca que se chamava HARMONIA com Jhony Rice, no Guarujá trabalhei com o kareca que é shaper até hoje da Shine Surfboards. Sai do Brasil porque estava desmotivado, tinha conseguido ser o shaper várias vezes dos campeões paulistas (Tinguinha Lima, Paulo Kid, Jojó Olivença, Picuruta Salazar e bi-campeão brasileiro com Jojó Olivença) necesitava aprender mais e tinha acabado de ganhar o Hang Loose com um surfista da Califórnia (Joey Jankins) tinha vários surfistas do ‘tour’ na época que queriam meus shapes e eu queria shapear na Europa Hawaii, Austrália etc.....
Você no Brasil trabalhou com o Jojó de Olivença que na época foi campeão brasileiro usando tuas pranchas, teve alguma repercussão no teu trabalho? Quem mais surfou com tuas pranchas nesta época?
Foi uma época maravilhosa, Jojó foi campeão paulista, brasileiro e depois bi-brasileiro foram quatro anos trabalhando juntos e ele entrou no ‘WT’ também com meus shapes por isso também queria sair do ‘braza’, Jojó foi fundamental para minha evolução como shaper, também fiz pranchas pro Barton Lynch (uma vez o cara me chamou e veio me visitar no macuco imagina um campeão mundial de surf no bairro do macuco foi show, também comecei fazer shapes pro Munga Barry, Shane Powell, japonezes bons, Kaipo Jaquias do Hawaii, depois Guilherme Herdy, Peterson Rosa, Fabio Gouveia, Leo Neves, fiz uma até pro Kelly Slater e outros......era um pouco loco o momento parecia que era o All Merrick ah ah ah bons tempos.....
Aqui na Europa você escolheu a Espanha e mais precisamente Astúrias para se instalar com a família, Porque e como foi tua chegada ?
Não estava pensando na Espanha, mas tava num campeonato brasileiro com o Picuruta que tava competindo com um shape meu, e ele me apresentou um cara que tinha uma fábrica nas Astúrias ele me convidou pra vir no princípio não gostei nada da idéia, pois queria ir pro Hawaiii, fiz umas pranchas para Gustavo trazer para os caras da sua equipe. Ele veio e os caras arrebentaram no circuito Europeu, então ele me chamou da Espanha falando e eu decidi vir no ano de 1994. Cheguei e os surfistas queriam meus shapes, fiz muitas pranchas em 94 umas 80 na Espanha e outras 50 na França trabalhei 40 dias em cada país (fiquei três meses e voltei pro ‘braza’) ai, fui ao Hawaii e no outro ano voltei as Astúrias.
Astúrias comparada com outras regiões da Espanha e uma das mais atrasadas em nível de surf e com menos praticantes, apesar de contar com uma extensa costa e boas ondas. O que falta para que esta região chegue a ser como o país basco por exemplo.
Nas Astúrias, têm muitos surfistas que querem só se divertir, não pensam em ‘reentrys aereos’ em ser radical, a única coisa que querem e remar, relaxar sem pensar em nada, não estão interessados em serem competitivos, alguns não gostam do surf radical, gostam de estilo e deslizar suavemente em uma onda, alguns estão começando a serem competitivos, tudo será uma questão de tempo, existe espaço para todo tipo de surfista e isso temos que respeitar.
Aqui na Europa, como esta o mercado atual de pranchas de surf?
Têm trabalho o surf está crescendo, mais o único mau e que está entrando muita prancha barata, da Ásia e também feitas na Europa.
Sabemos que os chineses estão invadindo o mercado com pranchas baratas, esta influenciando de alguma maneira o mercado Europeu?
É só uma questão de matemáticas, na Europa e muito caro produzir e o sistema Europeu são caros, na Ásia os preços são outros, entendo que todos temos que sobreviver, eu já tive convite pra produzir no Vietnam e não quis ir, talvez eu seja muito purista no trabalho com as pranchas, os shapes famosos da América e Austrália também foram.
O que você acha dos novos materiais atuais como a resina de epóxi os novos blocos e as maquinas de pré shape?
Epóxi não e novo, trabalhei no Brasil antes com algumas epóxi (isopor) aqui na Europa aprendi muito mais da flexibilidade e hidrodinamica do epóxi, fui o primeiro aqui na Espanha a fazer pranchas epóxi, já fiz algumas também com o material ‘Keahana’ do Brasil que na verdade ta muito bom. Novos blocos não tem nada novo, somente temos pranchas sem longarina, prancha com carbono na borda, parabolic (longarina nas bordas) todos estão tentando fazer materiais mais ecológicos.
Máquinas de shape vieram pra ajudar os shapes e verdade, mas também ajuda pessoas que entendem de programa e não tem noção nenhuma de shaper a fazer pranchas bonitinhas.
Sei que vários profissionais já surfaram com tuas pranchas, quem foram e como você chegou ate eles e que influência têm no teu trabalho?
Eu sempre gostei de surfar e também competia no Brasil, com o Daniks Fisher e outros que passaram pela minha equipe, gostava e sigo gostando de aprender, nunca penso de mim mesmo que sei muito e acabou sendo natural, por exemplo.... Conheci Kelly no Rio de Janeiro (alternativa) depois vi o cara várias vezes no Hawaii, Austrália, França, Portugal e conversávamos de coisas normais como surf a vida, Deus e ele via as pranchas do Jojó, Munga, Barton, Shane Powell e um dia pensei vou fazer uma pra ele só pra saber como esta meu shape, eu não pensava.... nossaaaa...... O cara e o "REI", só pensava em aprender mais, e seria bom o seu ‘feedback’, penso que os pros sabiam que eu só queria trabalhar e não tava nem ai com a fama deles.
Fora Europa e Brasil onde mais trabalhou e trabalha atualmente?
Trabalhei no Hawaii com John Carper e Denis Pang, também fazia minhas pranchas lá na Austrália quando o Paul Canning da África do Sul era da minha equipe….trabalhei com o Gary Linden, também vou às Costa Rica shapear e mês passado tive no Marrocos vendo com uma fábrica lá pra fazer shapes (Gosto muito da África).
Na Europa tem muitos brasileiros trabalhando com pranchas mais não são tão valorados como os gringos, apesar de serem tão bons ou melhores que muitos, porque tanto os Europeus como os próprios brasileiros têm essa tendência em valorizar mais aos Americanos e Australianos?
Penso que é um fenômeno latino, o latino parece que pensa que falar em inglês e melhor (talvez por escutar muita música inglesa) também a tradição pesa muito, na Califórnia os caras começaram a surfar muito antes e no Hawaii também. Trabalhei com gente do mundo ‘anglosacsom’ e os caras são muito profissionais, Surfer Magazine esta na Califórnia e é líder mundial em vendas de revista de surf, na America o cara ganha uma vez e vão falar toda vida, no Brasil o cara ganha 10 vezes e o povo esquece rápido, Gilberto Gil disse uma vez “O Brasil paga muito mal seus artistas.”
Como vai a indústria de pranchas espanhola comparado com o brasileiro? Sei que o brasileiro e muito maior mais o espanhol cresceu muito estes últimos anos, da pra viver de um mercado tão reduzido?
Fazer prancha e viver delas e difícil em qualquer lugar, o mercado do Hawaii também ta afetado pelas crises, e o da Califórnia e Austrália também. Têm muita prancha em todo lugar. Afinal creio que shapear deve ser coisa que esta no sangue (já entrou pó de poliuretano nas nossas veias, sei lá o que) nos os shapers amamos muito nosso trabalho e na verdade ainda que precisamos do dinheiro não trabalhamos só para ganhar mais, trabalhamos porque amamos isso. O mercado Espanhol vai crescer cada vez mais e os surfistas estão começando a aprender que, encomendar uma prancha tem muitas vantagens.
E a França comparada com a Espanha, qual são as diferenças a nível de pranchas?
No inverno se usa mais volume porque se usa long John 4/3, pra Hossegor se necessita um pouco mais de ‘rocker’ e bordas mais finas pros tubos dos ‘beachs breaks’, e algumas praias como Guetary se necessita muito volume e pranchas grandes, acabo de shapear uma 9´0´´ para ondas bastante grandes, não vejo grandes diferenças nas pranchas pra ondas da Espanha e França, aqui tem muita onda boa no inverno e posso fazer as ‘guns’ que na verdade adoro shapea-las, eu penso que as pranchas são pessoais, cada surfista necessita sua prancha, adaptada para ele, de acordo ao seu biótipo, peso, nível de surf, tipo de onda a ser surfada, não existe essa idéia que a prancha do campeão serve pra qualquer um.
E como você vê o futuro do shaper artesão com a invasão das máquinas e dos chineses?
Penso que um bom shaper veterano sempre vai ter vantagem na hora da verdade e sempre vai existir porque aprendeu com as dificuldades, eu trabalho com as máquinas de shape e gosto, afinal é positivo para todos, os chineses estavam tranqüilos, os empresários da America, Austrália e Europa foram os que começaram a fabricar pranchas no mercado asiático por ser mais econômico e ter mais lucratividade, afinal é culpa de todos, não vejo o chinês como culpado de nada.
Uma última parece que você ira em breve ao Brasil fazer umas pranchas! Fale um pouco onde estará quanto tempo e se alguém esta interessado em adquirir uma de tuas pranchas como terá que fazer?
Penso em ir em janeiro por motivos familiares e estarei por um mês, estou falando com algumas fábricas, mas não tenho ainda nada definido, se alguém quer me contactar o site e www.hrsurfboards.com, na verdade tenho muito desejo de shapear no Brasil, estarei em Santos, desta vez na ponta da praia não no bairro do coração, o
macuco ah ah ah ahhhh...

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