terça-feira, 9 de novembro de 2010

Filha de Tom Curren dirige filme para ajudar crianças de favela em Fortaleza.

Lee Ann é de uma linhagem nobre do surfe. Nasceu na França, durante uma temporada europeia de seu pai, o americano Tom Curren. Não sabia o que era pobreza até o ano passado, quando foi conhecer a família de André Silva. Pouco antes, a francesa tinha se apaixonado por aquele rapaz de pele morena e olhos claros que, ao ganhar sua primeira prancha, ainda criança, viu ali uma chance de ter um futuro melhor. Com o namorado cearense, a surfista aprendeu a falar a palavra "favela" e a traduziu não para seu idioma, mas em imagens, uma forma de tentar ajudar outros Andrés. “Titan Kids” começou a ser exibido na Europa esta semana.


Titan é o apelido do Titanzinho, pico de surfe em frente à comunidade de mesmo nome, no bairro Serviluz, em Fortaleza, capital do Ceará. Um lugar que ficou conhecido por esculpir talentos. Maria "Tita" Tavares, Pablo Paulino, entre outros, tomaram ali as primeiras “vacas” e aprenderam o que precisavam para competir com os grandes.

Tom Curren não é apenas um dos grandes. Ele foi o maior de todos durante três anos (1985, 1986 e 1990). E, por isso, Lee Ann, mesmo morando longe do pai, teve de carregar sobre a prancha um peso a mais logo em seus primeiros campeonatos. A lourinha, porém, parecia não se importar com as comparações e cobranças. No ano passado, aos 20, garantiu com facilidade uma vaga na elite feminina do Circuito Mundial. Nesta temporada de estreia, perdeu uma das etapas por conta de uma lesão e está em 14º do ranking.

Nenhuma das dificuldades que Lee Ann encontrou no Circuito Mundial se compara às que viu no Ceará. Ao conhecer o lugar onde o namorado foi criado, a surfista se deu conta de que seu talento e seu sobrenome poderiam, sim, garantir mais do que bons patrocinadores. Enxergou uma brecha para tentar arrecadar fundos e pôr em prática um projeto para dar educação e cidadania através do esporte. O casal queria dar oportunidade de uma vida melhor àquelas crianças cearenses, e o documentário foi apenas o primeiro passo para divulgar as ideias.

Lee Ann e André também aproveitaram a amizade com surfistas tops profissionais - ele disputa a divisão de acesso (WQS) e divide-se entre o Rio de Janeiro, onde mora, e Biarritz, cidade da namorada. Entre um campeonato e outro, eles pediram aos amigos doações de pranchas, novas ou usadas. Todas ganharam pinturas especiais, feitas por artistas, e foram leiloadas na Europa.

Conseguimos uma professora de inglês para as crianças. O empresário da Lee doou 1000 euros assim que viu o teaser do documentário. No mesmo dia, liguei para o Tiago Cunha, que faz minha pranchas no Rio, e ele topou de fazer dez pranchas por esse valor - contou André.

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