quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Andy, o Lex Luthor que explorava as fraquezas de Slater

Quantas ironias a vida nos prega. Pensava sobre isso ao ler o texto sobre Bruce Irons, intitulada o anti herói do surf, onde o reporter dizia que não tínhamos o James Jean, o Jimmy Hendrix ou Kurt Cobain do surf porque o garoto do Kauai não havia se matado.


Há algum tempo já me cobrava por não estar escrevendo matérias de surf e infelizmente a inspiração veio da forma mais cruel de todas...Às 20h15 do dia 2 de novembro recebo um telefonema de um grande amigo de São Paulo dizendo que Andy Irons havia sido encontrado morto em um hotel em Dallas, vitima de Dengue Hemorrágica.

Tentei processar a informação, não consegui, parei com o corpo tremendo, tendo segurar as lágrimas que já molhavam meus olhos. Queria ligar para os amigos torcendo para que aquilo fosse um maldoso boato espalhado por alguém, mas ao abrir os sites a figura do havaiano estava estampada em todas as páginas. O domador de montanhas aquáticas supostamente havia sido vitimado por um mosquito. Novamente na vida real o super homem caia do cavalo.

Andy, figura emblemática do surf, foi durante muito tempo o verdadeiro anti herói do esporte, o Lex Luthor que explorava as fraquezas do homem de aço Kelly Slater. O único em todos os tempos que fez o rei por três anos cair de joelhos e implorar clemência.

Protagonizou duelos e viradas históricas contra Slater em Jeffrey’s, Japão, momentos de emoção quando perdendo a bateria para Hedge entregando o sexto título mundial a Slater, mas foi em Pipe e Teahupoo que ele reinou. Em ondas imensas mostrava ao mundo como se surfava chegando a colocar em dúvida a hegemonia de Kelly, e arrancando títulos mundiais das mãos destes nos segundos finais das baterias na rainha Pipeline. Depois de ter conquistado tudo, surfando sempre no limite em ondas de 1 a 50 pés com manobras ultra radicais e atitudes polêmicas, Irons cansou, pediu para sair do circuito, queria sair das lentes, dar um tempo para ele, curtir a família e pensar no seu futuro.

Andy voltou em 2010, muito mais maduro, amigável, sorridente, sem aquela imagem de Bad boy, conquistava agora muitos que antes não simpatizavam com ele. Mas algo estava faltando, o havaiano parecia não ter mais o sangue nos olhos e em muitos campeonatos perdia baterias de forma banal para simples mortais que jamais seriam páreo para o Iron Man, ou melhor, Andy Irons. Parecia realmente que ele estava diferente, o olhar lembrava o Driffter Rob Machado, que não estava mais nem aí para o mundo de competições.

Mas no Prime de Trestles, a fúria do Leão dava sinais de que ainda tinha algo a fazer no mundo do surf. E em Teahupoo, em condições não tão magníficas quanto o seu surf, escovou Kelly em seu ano de consagração e na final não tomou conhecimento de Cj, que logo depois declarou na net que estava torcendo pelo retorno de Andy.

Ansiosamente aguardava o retorno do rei a rainha de todas as ondas, Pipeline e Irons formam a perfeita combinação de harmonia e beleza. Mas a divindade tinha outros planos para Andy, e a rainha pode quebrar de forma brutal este ano expulsando a todos, ou simplesmente nem dar as caras, pois o Kamehameha não via estar por lá.

De repente me veio à mente que o havaiano deve ter planejado tudo isso, ora, não pode ser coincidência, ele já estragou a festa de Kelly por tantas vezes, e na semana que este será coroado decacampeão do mundo, um marco histórico dos esportes mundiais, Andy rouba a cena e sai na capa de todos os jornais, sendo o número um nas notícias. Sendo este o último ato do ex-Lex Luthor do circuito.

Não consigo conter mesmo algumas lágrimas que insistem em cair, nessa despedida, por saber que o mundo perde um grande surfista, alguém que mostrou que todos podem mudar e transformar o ódio no amor.

Fico muito feliz por ter tido a oportunidade de ter te visto surfar em um desses WTs do Brasil e também por saber que pra onde você vai não existe essa história de crowd, localismo, todas as ondas são perfeitas e não existem perdedores, porque todos são campeões! Que a sua partida nos sirva de reflexão para mudarmos nossos valores mesquinhos e nos tornarmos menos egoístas na água e na vida.

Aloha havaiano, vá em paz, vá com Deus!

Nenhum comentário:

Postar um comentário