- Sempre digo: sou argentino de sangue e brasileiro de coração - conta, rindo.
O pai de Alejo, argentino, foi trabalhar em Santa Catarina, onde hoje tem uma escolinha de surfe. Grávida, a mãe, também argentina, ficou em Mar del Plata porque Bombinhas só tinha parteiras. O hospital mais próximo ficava em Balneário Camboriú - a 30km - e, segundo a família, naquela época muitos bebês estavam morrendo na região. Alejo nasceu do lado de lá, logo veio para o Brasil, mas manteve-se argentino.
Aos 15 anos, o surfista começou a ver que tornar-se brasileiro poderia ser o melhor caminho a seguir. Tinha se classificado para o ISA Games - principal competição por equipes -, mas não pôde competir pela equipe verde-amarela. Decidiu então trocar de nacionalidade.
- O problema é que era preciso morar dez anos no Brasil, e a carteira de identidade só sairia cinco anos depois. Fui com meu pai para Brasília. Demos sorte e conseguimos em tempo recorde. Em três dias eu estava com identidade, CPF e passaporte nas mãos. Até publicaram uma foto minha no site do governo. Isaura. Nunca vou esquecer o nome da funcionária que nos ajudou - lembra-se.
A mesma sorte não teve um de seus três irmãos. Santiago, de 18 anos, há três temporadas tenta virar brasileiro. Ainda mora em Bombinhas, com os pais, mas em 2011 vai se mudar para o Guarujá (SP), onde Alejo mora, sozinho.
Santiago, aliás, foi peça-chave na conquista do irmão mais velho. Acompanhou a saga durante as duas primeiras etapas da Tríplice Coroa Havaiana. Em Sunset, Alejo chegou às quartas de final e ficou muito perto da vaga. Depois, foi necessário esperar a eliminação de alguns surfistas tops no Pipeline Masters. Em 2011, apenas os 32 primeiros do ranking unificado disputarão o Mundial - antes eram 45. Além de Alejo, o Brasil terá Adriano de Souza, o Mineirinho, Jadson André, Heitor Alves e Raoni Monteiro.
- Meu técnico, Paulo Kid, e meu irmão foram fundamentais. Se o Santiago não estivesse lá na praia, me dando força, não sei se iria conseguir.
Nos dias de espera e tensão, Alejo ligava todos os dias para casa, mas pedia para o pai não tocar no assunto. Preferia conversar sobre amenidades. Queria saber, por exemplo, como o caçula, Danilo, de 7 anos, estava na escola.
A notícia da classificação chegou apenas quando estava a caminho do Brasil, na conexão entre Los Angeles e Miami. Ele retornava com um troféu na bagagem: o de melhor estreante na Tríplice Coroa de 2009.
- Saí do avião e fiquei esperando meu técnico, que vinha atrás. Ele estava demorando muito. Quando me viu, abriu os braços e disse: "Você está dentro". Acho que ele ficou tão surpreso que não soube como me dar a notícia.
Adeus à 'equipe' de Slater para buscar mais espaço
- Uma das coisas que eu queria era ter mais espaço na equipe. A outra tinha o Slater, o Dane Reynolds... - disse.
Apesar de terem feito parte da mesma equipe, Alejo e Kelly Slater só se encontraram uma vez, em um jantar da empresa. Na primeira e única oportunidade de disputar uma etapa do Mundial - em Imbituba-2008, como convidado -, não teve chance de enfrentar o americano. Agora, torce para que o decacampeão mundial, de 38 anos, espere pelo menos mais alguns campeonatos antes de se aposentar.
- Quero competir contra ele em pelo menos um campeonato. Se ele me destruir na bateria, não tem problema - brinca.
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